O descarte inadequado do óleo de cozinha gera diversos prejuízos e problemas de ordem ambiental. Quando despejado pelos ralos da cozinha, provocam desde o entupimento gradativo das tubulações até a deterioração no funcionamento das estações de tratamento de esgoto. Se derramados sobre terrenos, tem o potencial de impermeabilizar o solo, agravando as enchentes, e podem até contaminar lençóis freáticos.
Preocupada em mitigar os efeitos desse descarte inadequado e disponibilizar uma alternativa viável para o reaproveitamento do material, a UEMG em João Monlevade criou em 2007 o projeto Uma Mão Lava a Outra, que é decorrente de um projeto anterior desenvolvido na Unidade, chamado Recicla Óleo.
Resumidamente, todo óleo de cozinha doado é tratado e submetido a misturas e reações químicas que habilitam sua reutilização sob forma de sabão. Segundo a professora Fabrícia Nunes de Jesus, coordenadora do projeto de extensão, são realizadas diversas modificações na produção do sabão a fim de se atingir uma formulação com o melhor rendimento, sem perder a biodegradabilidade. "A possibilidade de aliar a produção de sabão e a preservação ambiental norteia a fabricação de sabão a partir de óleo comestível. O sabão produzido é biodegradável, pois é decomposto por bactérias após a sua utilização. Também é ecológico, uma vez que evita o descarte de óleo residual no meio ambiente e evita danos ao solo, à água e à fauna", explica.
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Desde sua implementação, o projeto tem fortalecido suas raízes junto à comunidade, que tanto apoia as doações quanto conta com seus resultados. Dado o tempo de operação da iniciativa, já existe uma cadeia estabelecida de colaboração, desde a doação de matérias-prima pela população e de recipientes para envase por empresas parceiras, até o trabalho voluntário ou extensionista para a criação do produto, que retorna gratuitamente ao benefício da própria sociedade.
Segundo a professora, atualmente seis instituições locais recebem remessas do sabão mensalmente: Serviço de Saúde Mental de João Monlevade (Sésamo), Associação dos Trabalhadores de Limpeza e Materiais Recicláveis de João Monlevade (Altimarjom) Presídio municipal, Lar São José (Asilo), Colônia Terapêutica Bom Samaritano e Casa de Passagem Municipal. Diversas outras organizações e grupos de apoio da região também têm sido um destino recorrente do material de higiene.
Além delas, as pessoas comuns também podem contribuir e se beneficiar: um litro de sabão líquido é retornado a cada dois litros de óleo fornecidos.Para que essa iniciativa prossiga, no entanto, a professora reforça a necessidade do engajamento das pessoas e do comércio. As doações do material são recebidas na sede 2 da UEMG João Monlevade, que fica no bairro Santa Bárbara (Avenida Getúlio Vargas, 6550). É possível também seguir, curtir e compartilhar as ações e informações sobre o projeto no perfil criado no Instagram.
Reconhecimento
Foto: Divulgação CMJM
A atuação relevante do projeto Uma Mão Lava a Outra chamou a atenção dos vereadores de João Monlevade, que resolveram conceder a ele uma Moção de Aplausos, em solenidade realizada na Câmara Municipal de João Monlevade no último dia 10.
Coube aos professores vinculados ao projeto, Fabrícia Nunes de Jesus e Agostinho Ferreira, receber das mãos dos parlamentares a honraria, oportunidade em que apresentaram a criação e as transformações ocorridas no projeto ao longo dos anos, além de reforçar a importância das doações da população para a continuidade da iniciativa.
Segundo os vereadores responsáveis pela homenagem, a Moção é um reconhecimento aos anos de contribuição de um trabalho que opera multidisciplinarmente, gerando impactos de ordem social, econômica e ambiental sobre a comunidade local.
A professora Fabrícia relembrou como a proposta alcançou o protagonismo durante a vigência da pandemia de Covid-19, período em que a higiene pessoal tornou-se ainda mais relevante no combate à infecção. Foram realizadas nessa oportunidade ações como "varais solidários" em regiões de maior vulnerabilidade social, nas quais além de doar sabonetes líquidos e em barra para a população evitar o contágio, também a orientava quanto a uma eficaz higienização e quanto ao manejo correto do óleo de cozinha já utilizado.
O projeto "Uma Mão Lava a Outra" já distribuiu mais de 7 mil litros de sabão líquido, como também centenas de barras de sabão sólido para diversas pessoas e instituições da região. A equipe se dedica agora à criação de uma variação de sabão em pó.