A professora Virgínia Mendes Carregal, do curso de Fisioterapia da UEMG Unidade Divinópolis, participou de três importantes eventos sobre doenças tropicais realizados, de forma simultânea, entre os dias 28 e 31 de julho, no campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte: o 55º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), o 26º Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia (Parasito) e o Chagasleish 2019, que engloba dois outros eventos, a 34ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e a 22ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses. A abertura dos eventos ocorreu no Palácio das Artes, também na capital, e contou com a presença do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que anunciou a destinação de R$ 50 milhões para pesquisa em doenças transmissíveis e negligenciadas (clique aqui e leia mais sobre o assunto).
Durante os eventos, a professora apresentou, em formato de banner, o trabalho Nanoassemblies made from amphiphilic antimony(V) complex incorporating miltefosine for the oral treatment of leishmaniasis (“Nanosistemas feitos de complexos anfifílicos de antimônio(V) incorporando miltefosina para o tratamento das leishmanioses”), elaborado a partir do doutorado que ela defendeu em 2016, na área de Ciências Biológicas/Fisiologia, no Departamento de Fisiologia e Biofísica, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, com orientação do professor Frédéric Frézard.
Tratamento
Durante o doutorado, Virgínia trabalhou com o desenvolvimento de fármacos para tratar a leishmaniose. “A gente tem muitos problemas com relação aos medicamentos disponíveis para tratar a doença porque estes medicamentos não têm uma eficácia grande. Tem-se muita resistência aos medicamentos, além de muito efeito colateral. Desta forma, a gente utilizou uma estratégia da Organização Mundial de Saúde [OMS], que é aproveitar fármacos que estão no mercado, e que já estão sendo utilizados, e reposicioná-los para que a gente possa aproveitar o máximo deles”, ressaltou.
Desta forma, ela utilizou o antimoniato de sódio, que faz parte de um medicamento usado desde a Segunda Guerra Mundial para tratar as leishmanioses. “É um metal que gera muito efeito colateral. Então, a gente pegou este metal e o colocou no sistema, na ordem de nanômetros, e em quantidades pequenas para que ele direcionasse para onde a gente precisava tratar, para os órgãos principais que são acometidos pela doença. E, usando uma dose pequena, a gente diminuiria o efeito colateral”, comentou.
Para aumentar a eficácia do medicamento, a professora combinou, na pesquisa, o antimoniato de sódio com a miltefosina, usada no tratamento do câncer de mama e que funciona também no tratamento da leishmaniose. “A gente combinou estas terapias dentro de um sistema para tratar os animais no modelo de leishmaniose cutânea, que gera grande impacto na vida do indivíduo. Não é uma forma letal da doença, mas, ao mesmo tempo, gera grandes desfigurações na pessoa, deixando lesões irreparáveis na pele, o que gera um comprometimento social e um impacto muito grande na vida do indivíduo. A gente utilizou este medicamento novo, com toda esta estratégia, para tratar a doença em camundongos, e viu que houve um efeito muito pronunciado, praticamente zerando a carga parasitária destes animais. Ou seja, é um medicamento promissor para tratar a doença”, finalizou.
A professora ressaltou que a participação em eventos científicos vai além da troca de informações e atualização. “É um momento de conhecer de perto pesquisadores que só conhecemos através das publicações. É a hora de fazer novas parcerias e apostar no ‘network’. É muito gratificante a possibilidade de discutir os frutos do nosso trabalho com aqueles que nos inspiraram na teoria”, concluiu.
Artigo
O trabalho apresentado nos eventos foi publicado no periódico “Parasitology Research”, cuja classificação do fator de impacto Qualis-Periódico da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) é A1. O artigo Combination oral therapy against ‘Leishmania amazonensis’ infection in BALB/c mice using nanoassemblies made from amphiphilic antimony(V) complex incorporating miltefosine (“Terapia oral combinada contra infecção por ‘Leishmania amazonense’ em camundongos BALB/c usando nanosistemas feitos de complexo anfifílico de antimônio(V) incorporando miltefosina”) foi produzido pela professora em colaboração com os pesquisadores Arshad Islam, Cynthia Demicheli, Daniel Souza, Frédéric Frézard, Juliane Lanza e Ricardo Fujiwara, da UFMG, e Luis Rivas, do Centro de Investigaciones Biologicas, de Madri (Espanha) – clique aqui e confira o artigo.
Além de lecionar no curso de Fisioterapia da UEMG Divinópolis, a professora Virgínia desenvolve pesquisas no Laboratório de Biofísica de Sistemas Nanoestruturados (Labnano), do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.